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domingo, 31 de janeiro de 2010

solilóquio de um MENDIGO


Um dia, eu já fui uma pessoa feliz. Já tive família, já morei em uma bonita casa, brincava com meus filhos, amava minha esposa...
Um dia eu já fui amado, tenho certeza disso. As pessoas se preocupavam comigo, iam me visitar no meu aniversário, me davam presentes. Na época, me lembro, eu nem dava muita importância pra essas coisas, por que meu trabalho me tomava muito tempo.
Mas hoje as coisas são bem diferentes.
Por motivos que não irei falar agora, perdi tudo o que eu tinha. Minha esposa, minha casa, meus filhos me abandonaram, e meus amigos se esqueceram de mim.
Hoje estou aqui.
Na rua.
Sozinho.
Sem ninguém.
Nem nada.
Acho que Deus se esqueceu de mim, também... Não vejo as pessoas falar de Deus.
E, é duro ver que elas não se preocupam comigo.
Na maioria das vezes, pra falar a verdade, é como se eu não existisse.
Parece um sonho, ou pesadelo.
Só percebo que existo, quando vem a fome, ou quando alguém me bate... Engraçado que ao mesmo tempo em que pareço não existir, parece que eu incomodo tanto os outros. A ponto de eles me maltratarem... Mas estou acostumado, já nem ligo muito.
É só tomar alguma coisa forte, que passa. A bebida é minha única amiga. Jamais pensei que dependeria tanto dela, que me tornaria seu amigo, além de escravo.
Sinto que tem algo errado.
Com minha saúde.
Não devo durar muito.
Tenho curiosidade de saber o que vai acontecer depois. Será que existe algo depois dessa vida? Tomara que sim, porque essa vida... Pra mim não foi boa.
Tanta dor.
Tanta fome.
Tanto frio.
E o pior: tanta solidão.
Ninguém me ama. Ninguém ao menos se preocupa comigo. Deve ser por causa do meu cheiro ruim... E da minha cara feia, e da minha situação financeira. Hoje em dia, é isso que preocupa os outros. Fico pensando: “onde estão as pessoas que se dizem boas? Será que não poderiam me socorrer, me ajudar, me dar pão, me vestir”.
É eu acho que estou sozinho mesmo.
Mas por quê?

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